Cada um na sua casinha — Tipologia
Separar por Categorias ou Mecânicas é uma forma, mas não é o nosso caso de hoje, e eu explico o motivo.
Representando as Categorias temos Jogos de Aventura, Estratégicos, Abstratos, Dedução, Exploração, e por aí vai, mas não é nosso objetivo agora. Já sobre Mecânicas temos Pontos de Ação, Gerenciamento de Mão, Dados, Force sua Sorte e afins. Realmente também não é o caso de hoje.
Então já que não falarei de Categorias e nem de Mecânicas, o que mais pode diferenciar um board game de outro?
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A Tipologia! Vamos entender do que se trata: basicamente (e resumidamente), é uma forma de descrever e padronizar um jogo do ponto de vista dos componentes. Bem, vamos a eles:
Ameritrash
Pois bem, “Ameritrash” soa estranho, a primeira vista até pejorativo por conta do “trash”... Sempre me lembro disso, mas na verdade não é bem assim. Ameritrash nada mais é do que um bordão ou apelido para “jogos de tabuleiro estilo americano”. Vamos aos detalhes!
Os Ameritrashs pesam a mão em seus temas, eles fazem questão disso — são bem imersivos nesse quesito. Contam também com personagens, heróis ou facções com habilidades definidas individualmente, ou seja, diferentes habilidades.
Esse último quesito faz algumas pessoas torcerem o nariz para o Ameritrash por alegarem desbalanceamento. Fato? Sim e não! Sim, pois realmente o são, mas durante o jogo ele o faz resolver esse problema, é mais um desafio dos Ameritrashs.
Outra característica são os conflitos “jogador vs jogador”, e geralmente apresentam um nível de moderado para alto de sorte. Estão aí duas características que nos levam ao extremo do “ame ou odeie”. Isso se dá por alguns jogadores acharem que haverá marcação em cima de um único jogador, em geral o que está mais a frente em pontos de vitória. Pois é, isso é um fato mesmo, não tenho como negar.
Já sobre o nível de sorte, também dou a mão à palmatória. Tem mesmo o fator sorte envolvido. Não que isso seja ruim, eu adoro jogos que envolvem sorte, acho que dá um “flavor” no jogo, mas há quem odeie (e devem ser respeitados). Isso fica muito evidente quando você faz uma estratégia boa e é traído pela sorte nos dados, por exemplo. É meio desanimador, de fato, mas eu gosto mesmo assim... bem, talvez eu seja um pouco masoquista.
Enfim, o Ameritrash carrega essas características como principais. Vamos ver agora 4 exemplares dessa Tipologia:
Eles têm em comum todo um “lore” por trás, uma história carregada que faz parte da imersão no jogo, e isso eu valorizo demais! Compartilham muita interação, turnos “pesados” de votação, sorte, ações simultâneas, controle de área, leilão, controle de área e por aí vai. Essa Tipologia garante horas de diversão e aquela famosa tensão boa durante o jogo. Jogos assim te prendem na mesa e rendem altas tretas!
Em resumo, alguns jogadores apontam que o Ameritrash se concentra mais no tema e na jogabilidade dramática. Fato! “Bem” resumido, mas é um fato.
Eurogame
Atualmente, embora haja controvérsias quanto a isso, os Eurogames são os mais populares (os “Ameritrashers” vão me matar agora). Há uma curiosidade sobre os Eurogames: nem todos os Eurogames são europeus. Heim?! Isso mesmo, denominam-se Eurogames os “Board Games no estilo Alemão” muito embora nem todos sejam jogos de tabuleiro (heim?!), porém compartilham de um conjunto de características semelhantes.
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Mas afinal, o que caracteriza os Eurogames?
Os conflitos entre os jogadores são indiretos e geralmente envolve competição por recursos ou pontos. É meio que cada um por si. É óbvio que tem interação, mas realmente cada um buscando vantagem para si mesmo. Outra coisa marcante é que o combate é extremamente raro.
Uma característica que eu adoro é que os jogadores nunca são eliminados do jogo - isso pode ser muito valorizado, afinal, não há nada mais chato do que ser eliminado, ver o seus amigos todos se divertindo e você lá, como mero telespectador. Em resumo, todos tem chance até o final do jogo.
Outro fator marcante é que há pouca aleatoriedade ou sorte. A aleatoriedade que existe ainda por cima pode ser suavizada permitindo que o jogador decida o que fazer depois que um evento aleatório acontece, e não antes. Os dados são raros, mas não inéditos.
Não tão relevante, mas um fato, é que nos Eurogames o designer do jogo aparece na capa do jogo. Isso nos faz acabar comprando quase tudo de um designer pela boa experiência em um Eurogame específico. É marketing puro! Embora essa característica não seja específica dos Euros, o movimento Eurogame parece ter iniciado essa tendência de valorizar os designers.
Outro aspecto comum é sobre os componentes em que mais frequentemente as peças são feitas de madeira (os famosos “cubinhos”). Muito embora o jogo tenha um tema, na maioria das vezes tem muito pouco a ver com a jogabilidade (isso não é ruim, mas poderia dar mais atenção a isso, opinião minha).
Vamos aos 4 exemplares dessa Tipologia:
Resumidamente, o foco está na mecânica; por exemplo, um jogo com o tema Espacial pode ser o mesmo que um jogo sobre a Roma Antiga. Eurogames estão preocupados em obter o máximo da estratégia e da mecânica disponibilizando vários caminhos viáveis para marcar pontos ou garantir a condição de vitória. Eu dou o maior valor à isso!
Híbrido
Pois bem, agora me compliquei aqui, pois os jogos híbridos são, por definição, parte Eurogame e parte Ameritrash. Então, em certo sentido, eles são ambos. Simples assim! O que falar então dessa Tipologia?
Bem, que ela é a melhor por reunir o melhor dos mundos? Sim e não! Sim, pois realmente a primeira vista parece agradar gregos e troianos. Não, pois às vezes essa mistura não dá tão certo assim, ou melhor, os “Ameritrashers” e “Eurogamers” nunca se sentem completamente confortáveis e às vezes atribuem suas derrotas à Tipologia contrária a de seu gosto. Coisas de jogadores passionais.
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Ah, uma curiosidade sobre os Híbridos — eles por vezes são chamados de “Waros” (da junção das palavras “war” e “euro”).
Seus 4 melhores representantes são:
Análise Pedagógica das Tipologias
A verdade é que tudo é uma questão de gosto, mas vamos analisar da melhor de todas as formas: da forma pedagógica. Ameritrash são apaixonantes, quem nunca jogou um na infância que atire a primeira pedra. Pois bem, era inclusive o que mais tinha disponível no mercado, porém, embora rendesse horas de jogatina, também rendeu horas de frustração por ser eliminado precocemente de um jogo e passar o resto da tarde esperando a próxima oportunidade, e quando ela chegava o grupo estava cansado ou “era hora de ir pra casa”.
Levando isso em conta, pedagogicamente não é a melhor forma de introduzir novos jogadores, isso é um fato! Alegar que “todos têm que passar por isso” e que “ele irá aprender, pois a vida real é cruel” não é o melhor argumento para trazer um novato para uma mesa Ameritrash. Sem contar das alianças ou manhas que você já pode ter do jogo, frustrando ainda mais essa primeira experiência dos novatos. Particularmente não recomendo um Ameritrash de entrada, ainda mais com crianças.
Pois bem, em contrapartida, os Eurogames por estimular o raciocínio e estratégia, dando a todos o benefício de jogar e disputar até o final. Pedagogicamente analisando, gera no jogador novato aquela tensão boa que ter que ficar “ligadão” no jogo o tempo todo analisando seus recursos, pensando em turno à frente e no que pode fazer para otimizar seu turno. Ora se isso não é lição para uma vida toda? Se eu prefiro Eurogames? Ficou tá na cara assim? Pois é, por esses e mais outros motivos. É a melhor porta de entrada para novatos em board games e repito, pedagogicamente, é o melhor caminho.
E os Híbridos? Então, nessa ótica, eu os colocaria no meio do caminho, como um aprofundamento dos Eurogames e com uma pitada de Ameritrash, mesclando a estratégia, a gestão de recursos, com um cenário mais relevante para o jogo, mais competitivo no estilo “player vs player”, com mais chances de “marcar um adversário”, mas isso fluindo de uma forma natural, não se sobressaindo sobre a estratégia. Depois disso sim, os Ameritrashs.
Não que seja proibido o caminho contrário, ou mesmo que seja necessário seguir esse caminho, meu olhar é o de um Professor Universitário, colecionador, explicador de jogos, que sempre introduz pessoas novas no hobby, e avô de um netinho maravilhoso. Esse caminho é pedagógico, e assertivo, gerando novidades a cada inserção de tipos de jogos diferentes.
Curta seus jogos, incentive novos jogadores, faça com que os jogos brilhem, que marquem a vida deles da forma correta, sem frustrações! Bons jogos!
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