Review de Orléans: o jogo onde estratégia é tudo

O Vale do Loire é um vale conhecido como o Jardim da França e o Berço da Língua Francesa. Destaca-se também pela qualidade do seu patrimônio arquitetônico e suas cidades históricas, mas, em especial, pelos seus mundialmente famosos castelos.

Orléans é a capital da Região do Vale do Loire. Trata-se de uma cidade e comuna francesa que fica a cerca de 120 quilômetros ao sul de Paris. Sua localização central permite que ela seja um polo irradiador voltado para diversas cidades francesas e europeias.

Ainda sobre Orléans, sua história está intimamente ligada a Joana d’Arc pelos seus feitos durante a Guerra dos Cem Anos. Dentre eles, destaca-se aqui a batalha do Cerco de Orléans, que marcou a primeira grande vitória de Joana d'Arc e da França.

Após apenas 9 dias de ação, a batalha terminou com um resultado favorável aos franceses, e Orléans foi libertada, elevando assim a reputação de Joana d’Arc à condição de heroína da França.

Durante o jogo, poderemos viajar por 22 cidades do Vale do Loire, partindo de Orléans, para prosperarmos e fazermos a França crescer junto conosco.

Vamos conhecer Orléans.

Orléans é um jogo para 2 a 4 jogadores, com idade 12+, do designer Reiner Stockhausen. A arte ficou por conta de Klemens Franz.

Orléans foi lançado em 2014 pela DLP Games, e no Brasil veio em 2017 pela MeepleBR Jogos. Dentre as mecânicas, tem-se: movimento ponto-a-ponto, colecionar conjuntos, alocação de diferentes tipos de trabalhadores, árvores/trilhas de tecnologia, eventos e seleção de ação simultânea.

Orléans é destaque desde o ano de seu lançamento. Porém, vou citar somente as premiações que ele venceu:

- Em 2015, venceu como Jogo do Ano pela JUG Adult;

- Já em 2016, venceu como Melhor Jogo Expert pela Gouden Ludo;

- No mesmo ano, 2017, pela MinD-Spielepreis, venceu como Jogo Complexo E;

- As premiações se encerram em 2017 com o título de Melhor Jogo Expert pela Nederlandse Spellenprijs.

Além disso, foram várias indicações e nomeações, inclusive ao Kennerspiel des Jahres em 2015. Trata-se de um clássico dos Board Games.

Em meio a vários eventos na França Medieval, como pagamento de impostos, pestes, peregrinação e outros, partimos de Orléans, viajando por 22 destinos diferentes, dentre eles, cidades históricas conhecidas pelos seus belos castelos e jardins.

Durante o trajeto, reunimos fazendeiros, comerciantes, barqueiros, artesãos, eruditos, cavaleiros e monges, que, juntos, cada um com sua habilidade, nos fazem prosperar. Quem melhor gerir todos esses fatores irá vencer. E aí, está preparado?

Esse é o cenário de Orléans!

Iniciamos o jogo com nosso mercador na cidade de Orléans, um total de 5 moedas e 10 postos comerciais para serem construídos nas cidades. Além disso, já contamos com a ajuda de 4 personagens iniciais da nossa cor: um fazendeiro, um barqueiro, um artesão e um comerciante, que colocamos em nossa bag para sorteio.

Com isso, podemos nos aventurar pelas fases do jogo, que caracterizam uma rodada. São elas:

- Fase 1 - Ampulheta: o jogador inicial vira o tile com o marcador de ampulheta. Eles marcam a duração do jogo e mostram o evento que estará em vigor durante esse turno;

- Fase 2 - Censo: aqui, quem tem mais fazendeiros ganha 1 moeda, e quem tem menos, paga 1 moeda. Porém, se houver empate pela maioria, ninguém ganha. O mesmo acontece com quem tem menos fazendeiros;

- Fase 3 - Seguidores: aqui retiramos fichas de personagem de nossa bag na quantidade indicada no nosso marcador na trilha de cavaleiros e as colocamos no mercado. Essa fase acontece simultaneamente, ou seja, todos os jogadores agem ao mesmo tempo;

- Fase 4 - Planejamento: aqui reside a parte mais estratégica do jogo. Você pode usar algumas ou todas as fichas de personagem do seu mercado para ativar locais que permitem uma ação. Esta fase também é simultânea;

- Fase 5 - Ações: agora você pode realizar as ações dos locais que ativou, ou seja, onde colocou as fichas de personagens requeridas. Começando com o jogador inicial, cada jogador pode realizar 1 ação ou passar a vez. Porém, se passar, não pode mais realizar ações durante a rodada;

- Fase 6 - Evento: resolva o evento em vigor, mostrado na Fase 1 - Ampulheta E;

- Fase 7 - Jogador Inicial: o jogador inicial da rodada passa o token de primeiro jogador para o jogador à sua esquerda.

Cabe aqui uma breve explicação sobre os eventos que acontecem durante o jogo:

- Peregrinação: durante esse evento, não se pode recrutar monges. Afinal, eles estão em peregrinação;

- Renda: receba moedas equivalentes ao seu desenvolvimento;

- Safra: pague um alimento pela época da safra. Se não puder pagar com alimento, pague 5 moedas. Se não tiver nenhum dos dois, você vai à bancarrota (perde coisas ainda mais valiosas);

- Impostos: pague 1 moeda a cada 3 produtos que tenha. Se não pagar, vai à bancarrota;

- Dia do Comércio: receba 1 moeda para cada posto comercial que você construiu E;

- Peste: por conta deste evento, você perde 1 ficha de personagem. Retire uma ficha de personagem da bag; se der sorte de ser um de seus personagens iniciais da sua cor, eles voltam para a bag.

Já que estamos no assunto personagens, existem locais específicos no tabuleiro principal onde podemos consegui-los, avançar nas respectivas trilhas, o que é muito importante, e ainda conseguir um bônus que será explicado a seguir:

- Universidade: aqui conseguimos fichas de eruditos (cinza), que nos permitem nos desenvolver (ganhar pontos de desenvolvimento);

- Castelo: lá conseguimos fichas de cavaleiros (vermelhas), que nos permitem retirar, cada vez mais, seguidores da bag na Fase 3 - Seguidores;

- Monastério: neste local conseguimos fichas de monges (amarelas). Não dão bônus, mas podem ser usados no lugar de qualquer outro personagem, como um curinga;

- Casa da Fazenda: aqui conseguimos fichas de fazendeiros (brancas) e uma mercadoria E;

- Vilarejo: onde conseguimos fichas de barqueiros (azuis), artesãos (marrons) ou comerciantes (pretas). O barqueiro dá dinheiro, o artesão dá ficha de tecnologia (engrenagem), que substitui um personagem (menos o monge), e o comerciante permite construir um local que poderá ser ativado só por você.

Ainda sobre o tabuleiro principal, também temos acesso a locais com outras possibilidades, a saber:

- Navio: permite viajar entre as cidades onde há rota fluvial;

- Carroça: permite viajar entre as cidades pela estrada;

- Salão da Guilda: permite construir postos comerciais;

- Scriptorium: dá ponto na trilha de desenvolvimento E;

- Prefeitura: dá acesso a outro tabuleiro, o tabuleiro de benfeitorias. Ele dá outros bônus e, para o jogador que conclui-las, garante um token de cidadão, um dos multiplicadores no final do jogo.

Um detalhe: viajar é a melhor forma de conseguir fichas de mercadorias (grãos, queijo, vinho, lã e brocado), além de permitir construir postos comerciais. Viaje muito, de navio ou de carroça, mas viaje!

Já falamos sobre os locais que estão previamente disponíveis no tabuleiro principal, mas existem locais ainda por construir com a ajuda dos comerciantes. Eles permitem mais possibilidades para alocarmos nossos personagens, a saber:

- Locais que dão exclusivamente mercadorias específicas;

- Locais que permitem se desenvolver (dão pontos de desenvolvimento);

- Outros dão moedas;

- Local que permite trocar moedas por pontos de desenvolvimento;

- Outro dá renda por postos comerciais;

- Local que permite recrutar mais seguidores;

- Outro que permite que uns personagens atuem no lugar de outros, como o monge;

- Local que protege dos eventos;

- Local para expandir o mercado E;

- Local para gerar mais tecnologia (engrenagem).

Uma informação importante é que, na medida em que se avança na trilha de desenvolvimento, você ganha moedas e tokens de cidadão (esses só para quem passar por lá primeiro). Há também um marcador importante nessa trilha, o Índice de Desenvolvimento. Ele tem o formato de estrela e indica o seu atual estado de desenvolvimento. É um indicador importante, pois afeta alguns eventos e locais, além de ser um dos multiplicadores no final do jogo. Por isso, é bom se desenvolver!

Em suma, uma rodada de Orléans basicamente se resume a:

- Descobrir o evento que irá nos afetar;

- Receber dinheiro ou pagar por ter mais ou menos fazendeiros;

- Retirar seguidores da bag e colocá-los no mercado para usar;

- Alocar os seguidores no tabuleiro principal e/ou nos locais construídos;

- Ativar os locais onde temos seguidores;

- Ativar o efeito do evento da rodada E;

- Passar o token de primeiro jogador para o jogador à sua esquerda.

Assim é uma rodada de Orléans!

O jogo termina no final da 18ª rodada. Antes de fazer a contagem de pontos, o jogador que construiu mais postos comerciais recebe o último token de cidadão restante. Em caso de empate, nenhum jogador recebe esse token.

Agora a pontuação final. Cada jogador marca pontos de vitória da seguinte maneira:

- Brocado: 5 pontos por cada ficha;

- Lã: 4 pontos por cada ficha;

- Vinho: 3 pontos por cada ficha;

- Queijo: 2 pontos por cada ficha;

- Grãos: 1 ponto por cada ficha;

- Moedas: 1 ponto para cada moeda E

- Postos de Comércio e tokens de Cidadão: some os seus postos de comércio e os seus tokens de cidadão e os multiplique pelo seu Índice de Desenvolvimento.

Some todos os seus pontos. O jogador com mais pontos de vitória é o vencedor. Em caso de empate, dentre os empatados, vence o jogador que está à frente na trilha de desenvolvimento. Se, ainda assim, o empate persistir, os jogadores empatados dividem a vitória.

Orléans é um jogo altamente estratégico e com várias possibilidades. Gerenciar todas elas ao mesmo tempo é o segredo de tudo. Vou aqui analisar fase a fase sobre como gerenciar e aproveitar mais cada uma delas.

Sobre os eventos que aparecem na Fase 1, da Ampulheta, é melhor estar sempre preparado, ou seja, se desenvolva para conseguir moedas, tenha sempre ao menos 1 alimento para pagar na safra, economize moedas para pagar os impostos, construa postos comerciais para ganhar dinheiro e, sobre a peste, só a sorte poderá lhe ajudar. São eventos que alteram, e muito, o jogo. Prepare-se!

Na Fase 2, do Censo, a ideia geral é ter mais fazendeiros e estar sempre na frente para ganhar 1 moeda, ou no meio da galera, sem ganhar nada. Mas nunca fique em último, para não ter que pagar 1 moeda.

Note que na Fase 3, de conseguir Seguidores, dependemos totalmente do nosso desempenho na trilha de cavaleiros. Quanto mais tivermos, mais seguidores colocaremos no mercado para ativarmos os locais, ou seja, nosso turno irá render mais. Essa é uma das sacadas do jogo. Use isso a seu favor!

Agora, o momento principal do jogo, a Fase 4, de Planejamento. Escolha cuidadosamente e de forma estratégica onde alocar seus seguidores, ou seja, quais locais deseja ativar para conseguir mais recursos e seguidores, viajar, construir locais para utilizar, etc.

As dicas que vou dar agora não são o único caminho para se dar bem no jogo, obviamente, mas ajudam muito:

- Invista nos artesãos, pois eles dão fichas de tecnologia (engrenagem) que substituem um personagem em um local até o fim do jogo. Tem algumas restrições, mas afirmo: as engrenagens são bem úteis;

- Invista nos comerciantes, pois eles permitem construir outros locais importantes que lhe darão mais oportunidades únicas e mais possibilidades em cada ação;

- Viaje muito entre as cidades, pela estrada ou pelo rio. É uma excelente forma de coletar mercadorias, sem falar que é só viajando que se pode construir postos comerciais em cidades que ainda não têm postos comerciais de outros jogadores. É uma verdadeira corrida;

- Procure avançar e chegar ao fim das trilhas dos personagens. No final das trilhas, quem chegar primeiro pega o token de cidadão lá disponível; como já dito, ele é um dos multiplicadores no final do jogo E

- Nas trilhas de desenvolvimento também há tokens de cidadão disponíveis, bem como no tabuleiro de benfeitorias e para quem construir mais postos comerciais nas cidades. Enfim, consiga a maior quantidade de tokens de cidadão que puder, pois isso fará a diferença no final.

Voltando às fases, esteja bem atento na Fase 5, de executar as suas Ações nos locais que você ativou. Digo isso porque, obviamente, há uma ordem lógica das coisas. Não dá para ir ativando sem pensar, pois você pode querer, por exemplo, construir um posto comercial em uma cidade e não ter viajado para lá ainda.

Cabe ressaltar que, com exceção da cidade de Orléans, onde iniciamos o jogo, as demais 22 cidades só permitem 1 posto comercial em cada local. Vira uma corrida para construir os postos comerciais. Eu disse que essa fase era importante ser jogada em uma ordem lógica. Sem falar que, se optar por não fazer nada no seu turno, ou seja, passar a vez, não poderá realizar mais ações nessa rodada.

Por fim, mas não menos importante, a Fase 6, onde o Evento efetivamente acontece. Já ressaltei aqui, nas dicas da Fase 1 - Ampulheta, o quanto é importante estar preparado. Parece pouco, os ganhos e perdas, porém, afirmo: os efeitos dos eventos fazem realmente a diferença, acredite em mim!

A verdade é uma só: você sempre desejará realizar mais ações do que é possível. Há muitos caminhos para a vitória. O desafio é combinar todos os elementos da melhor forma possível para sua estratégia.

Com base nestas dicas, monte sua melhor estratégia, gerencie seus recursos e seguidores e vença em Orléans.

Curta o Unboxing:

Assista a um vídeo de Regras:

Confira um Gameplay:

Se busca um jogo altamente estratégico, onde a criançada terá muitas coisas para fazer, com uma carga histórica enorme e que ainda traz excelentes estímulos, Orléans é o seu jogo!

Eu começaria, ao abrir o jogo, mostrando o tabuleiro com as cidades, pois são cidades reais da França. Aproveitaria para, com auxílio da internet, mostrar um pouco da história da época, seus castelos e a história de Joana d’Arc com Orléans. Seguindo por esse caminho, a criançada vai adorar construir seus postos comerciais nas cidades onde sabem existir castelos e jardins famosos. Isso dará outra cara ao jogo. Aproveite, não deixe essa aula de história e cultura passar em branco.

O jogo tem muita coisa para fazer, mas a diversão da criançada será do início ao fim, especialmente no momento da rodada em que descobrem o evento que acontecerá no final. A expectativa será grande, pois pode ser de peste (coisa ruim) a renda (coisa boa).

Depois, todos vão conferir quem tem mais fazendeiros para ganhar dinheiro e quem vai perder moedas. Será aquele momento de tirar sarro do coleguinha que tem menos fazendeiros. Eles vão se divertir.

Após isso, retirarão seguidores da bag (ou saquinho, para a criançada) para ver o que conseguem nesse momento de sorte do jogo. Dependendo do planejamento, eles precisarão de seguidores específicos, e nem sempre vêm os que se precisa. Então, mais um momento de expectativa e tensão boa durante o jogo.

Aí eles vão lutar com o que têm, colocar os seguidores nos locais escolhidos e depois ativar os locais. É bastante coisa! Vamos notar, nesse momento, o quanto de estímulos Orléans oferece:

- Gestão: para gerir os seguidores, dinheiro, mercadorias, etc.;

- Estratégia: para decidir para onde enviar os seguidores, onde construir postos comerciais, por onde viajar, quais produtos pegar, etc.;

- Tomada de decisão: depois de traçar a estratégia, é hora de tomar as decisões de fato. Saber que optar por algo também significa deixar algo de lado ensina muito à criançada E

- Raciocínio lógico-matemático: a todo momento eles estão contando a quantidade de seguidores, locais disponíveis, mercadorias, pagamentos de impostos, pontos, etc.

Esses estímulos estarão presentes durante o jogo todo e cada rodada, ininterruptamente. Ou seja, aprenderão, literalmente, brincando. É bom demais!

Pedagogicamente, Orléans, além da aula de história e cultura que traz, estimula a estratégia, a gestão, a tomada de decisão, o raciocínio lógico-matemático e, ainda por cima, diverte!

Recomendo Orléans na sua coleção!