Jogos de Mistério
Os jogos de mistério geralmente envolvem um assassinato ou assassinatos não resolvidos. Um requisito desses jogos geralmente é que os jogadores investiguem esses crimes e determinem os detalhes criminais e/ou o(s) autor(es).
Pois bem, não é de hoje que resolver mistérios faz parte da nossa vida, desde criança o simples fato de resolver charadas, decifrar coisas ou descobrir algo oculto enchia nossas cabeças de muita imaginação. Os designers de board games levaram isso a sério e obtiveram sucesso.
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Top Games de Mistério
É um nicho dentro do nicho, uma área específica de board games que vem para preencher essa nossa necessidade de se sentir desafiado, e para nossa alegria, os board games de mistério estão cada vez melhores, com componentes em 3D, mais realistas, alguns arriscam até a pintá-los para tornar mais bacana ainda, com interação em aplicativos e sites, e por aí vai.
Board Game Geek tem uma categoria específica para isso e de lá saem os Top Games de Mistério, top esse que analisaremos neste artigo. A certeza que essa categoria norteia o Mercado se mostra notando que 5 dos 6 já vieram para o Brasil pela mesma editora (quase trouxe todos) e apenas 1 por outra editora, ou seja, o Board Game Geek é realmente um balizador de mercado e isso os trouxe para o Brasil. Vamos aos jogos!
Mansions of Madness: 2ª Edição
Eu arrisco chamá-lo de clássico, pois é o sonho de consumo de todo board gamer que adora um bom mistério. Ele possui todos os elementos que todos adoramos: tiles de lugares diferentes, miniaturas 3D de personagens e monstros, muitos tokens, vem com 4 cenários e as opções de cenários disponíveis para comprar são enormes, sem contar que um app ainda agiliza nossa vida durante o jogo.
Jogar Mansions of Madness nos faz lembrar um pouco o RPG, onde nossas ações têm consequências para todos, afinal, ele é um jogo cooperativo. Isso dá um flavor a mais. Sempre temos escolhas a serem tomadas e isso faz dele um sucesso.
Mansion of Madness é do designer Nikki Valens, indicado para 14+ e comporta de 1 a 5 jogadores. No Brasil ele veio pela Galápagos e de imediato ganhou uma legião de fãs por abordar horror e mistério no mesmo universo de Eldritch Horror e Elder Sign. Nesse cenário você irá resolver quebra-cabeças complexos e lutar contra monstros, demência e morte. Resolva esse mistério antes que seja tarde demais!
Aqui os tiles coloridos e as miniaturas encantam, mas saiba que encarar uma aventura de Mansions não é jogo para 1 ou 2 horas. Reserve de 3 a 5 horas dependendo da quantidade de jogadores. Isso se explica pelo fato de tomarmos decisões a todo o momento, e como o jogo é cooperativo, nos vemos a todo instante consultando nossos colegas jogadores para juntos fazermos a melhor opção, e nisso o debate vai longe.
Assim sendo, recomendo reservar uma tarde toda ou começar a jogar no início da noite sem se preocupar como o horário. Será longo, mas a diversão é garantida!
Sherlock Holmes Consulting Detective: The Thames Murders & Other Cases
Bem, quem nunca brincou de detetive quando era criança? E de ser o protagonista? Sherlock Holmes? Logo vem à nossa mente a imagem de Robert Downey Jr. o interpretando tão bem. Pois bem, é lógico que isso iria acabar chegando com muita qualidade aos board games. Isso é corriqueiro. Que bom!
Lembro-me que Sherlock Holmes Consulting Detective foi anunciado na Galápagos Spoiler Fest. Pois é, a Galápagos de olho no mercado foi rápida e adquiriu a licença desse sucesso. A tônica do board game é a mesma dos filmes, vejamos: andar pelas ruas de Londres vitoriana, procurar nas docas o gigante rato de Sumatra ou subir a Baker Street com a névoa deixando o clima mais tenso. Você vai entrevistar suspeitos, procurar os jornais em busca de pistas, e reunir os fatos para chegar a uma solução.
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Ele é um jogo dos designers Raymond Edwards, Suzanne Goldberg, Gary Grady para 10+ e de 1 a 8 jogadores. Sabe a sua grande sacada? Ele não usa dados, tabuleiro e nem sorte, apenas sua capacidade mental. É realmente desafiador. Ele é cooperativo, usa muito a narração de histórias e como não poderia deixar de ser, a dedução.
O que o jogo tem então de componentes? Um guia e um mapa de Londres (eles se complementam), e pasmem, um jornal com notícias! Isso mesmo! Ah, e os casos, obviamente. Mas vamos lá, como esse jogo realmente funciona? Já te adianto que é uma experiência nova!
Você abre um livro de caso, tem uma breve introdução e uma pista. Agora, meus amigos, é com vocês! O livro não lhe envia para um determinado local, não te pede para ir para uma determinada página do livro. Você vai para onde quiser, onde sua dedução lhe provier, lá você pode ou não encontrar algo. Ao final, você responderá uma série de perguntas e verá quantos pontos você fez, ou seja, o quanto descobriu ou desvendou do caso. Bem diferente, não é?
A exemplo do jogo anterior, reserve boas horas para essa diversão investigativa. Uma outra experiência no mundo dos board games de mistério. Honestamente, embora seja um jogo “de boa” para 10+, mas acho que ele será aproveitado com mais “malícia de jogo” pelos mais velhos. A idade não é um impeditivo, mas não se extrairá tudo do jogo se não tiver muito “faro investigativo” e “malícia”.
Chronicles of Crime
Ôpa, adivinha quem trouxe esse título para o Brasil? Acertou quem disse Galápagos! Mas qual o diferencial desse jogo? Meus amigos, se preparem, se não estiverem sentados, se sentem: é um jogo cooperativo de investigação que mistura a realidade virtual aos jogos de tabuleiro.
É um jogo de David Cicurel, de 1 a 4 jogadores e para 14+, mais coerente com a idade do que a classificação do jogo anterior e vem acumulando prêmios desde 2019.
Mas como Chronicles of Crime funciona?
Vamos lá! No aplicativo, os jogadores escolhem o cenário desejado, e o objetivo é encontrar o assassino do caso escolhido no menor tempo de investigação possível.
O jogo utiliza Scan&Play, uma tecnologia onde os lugares, personagens e itens possuem um QR Code único, e dependendo do cenário escolhido, pode ativar diferentes histórias e pistas. Isso significa que os jogadores poderão adquirir novas histórias simplesmente baixando as atualizações no app. Isso é massa demais!
A tecnologia de realidade virtual requer o uso de celulares. Os jogadores podem utilizar o óculos VR (Virtual Reality) fornecidos pelo jogo para maior imersão no universo, procurando por pistas em um mundo virtual. Outro diferencial de Chronicles of Crime é que alguns cenários são conectados, formando uma história maior.
Como já citado, a classificação etária aqui foi mais assertiva. É como os demais, um jogo cooperativo, mas aqui são jogadores com diferentes habilidades, o que deixa o jogo mais bacana ainda, trabalha com a linha do tempo, usa muito a narração de histórias e obviamente, a dedução.
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Dentre os citados até agora esse é o de menor duração (1h30 em média), mas nem por isso diverte menos. A tecnologia VR aqui ajuda e faz dele um jogo único e divertido.
Detective: O Jogo da Investigação Moderna
Sim, a Galápagos também trouxe esse jogo para o Brasil! Sorte nossa! Veio com auxílio tecnológico também? Sim! Mas diferente das demais, agora 1 a 5 jogadores vão assumir o papel de investigadores da ANTARES, uma agência governamental. O jogo é dos designers Przemysław Rymer e do aclamado Ignacy Trzewiczek. Sobre o auxílio tecnológico, querem mais surpresa boa? Se preparem!
Os investigadores recebem credenciais de login na base de dados online da ANTARES, você irá se cadastrar de fato em um site da agência (não é um app, é um site), é real! Nesse site, devidamente logado você terá acesso a dados sobre suspeitos, testemunhas e documentação de prisões e julgamentos relacionados ao caso. E mais, os jogadores são livres para usar além do banco de dados ANTARES e quaisquer outros recursos online que possam encontrar para ajudá-los a resolver o caso.
É um jogo cooperativo, inclui cinco cenários que podem ser jogados de forma independente, ou trabalhados como uma campanha completa. O jogo combina elementos impressos com dados online que permitem aos jogadores investigar pistas através de seus dispositivos favoritos conectados à Internet. A idade é de 12+, ok. Eles se viram na internet melhor que eu!
Nota-se que a tecnologia está presente na maioria dos jogos, e o bacana é que de formas diferentes, eles não se repetem na inovação. Era previsto que a tecnologia ia chegar forte nos board games, mas o legal é as formas que estão usando. Separe aí umas 2 ou 3 horas para esse jogo. Será um ótimo tempo investido em diversão.
Deception: Murder in Hong Kong
Ahá!! Te peguei! Esse não veio ao Brasil pela Galápagos, mas sim pela Across the Board, que também já trouxe outros títulos bacanas. Deception é do designer Tobey Ho, com idade 14+ (perfeito!) e com duas enormes diferenças com relação aos demais: vai de 4 a 12 jogadores e seu tempo de duração é de 20 minutos. Acreditem, é isso mesmo! 20 minutos. Ah, e em 2019 ganhou o prêmio de jogo do ano!
Com relação aos componentes, diferente dos demais que contam com cadernos de pistas, sites ou apps, Deception trás pistas em tiles, são muitos, e cartas, muitas cartas. Ele é comparado ao Codenames devido à quantidade de cartas o que garante uma rejogabilidade absurda. Agora junte isso com um tempo de jogo curtíssimo. O resultado? Jogar 7 partidas uma atrás da outra e não se cansar. Isso é ótimo! Tem um fator replay absurdo!
O diferencial desse jogo é que os papeis dos jogadores são sorteados, ou seja, poderão ser investigadores, o assassino, o cúmplice ou a testemunha. Então sabe-se que vem diversão por aí, um deles interpretar o assassino. Ainda tem o cientista forense, que não jogará diretamente, mas ditará as normas e controlará a mesa. É muito divertido. Vai ter blefe na mesa!
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É chamado de party game por isso? Sim. É comparado a The Resistance? Sim, mas isso não desmerece o jogo, afinal, terá que descobrir o assassino, causa da morte e local, ou seja, não perde a tônica do mistério, inclusive, descobrir isso e ainda acusando seus amigos, é massa demais!
Tá aí um jogo que poderia ser 14- inclusive, pois é divertido e rápido, representar papéis cabe com certeza em 14 anos ou menos, eles vão curtir demais, creio que 12+ seria o ideal. Rápido, divertido e com rejogabilidade nas alturas.
MicroMacro: Cidade do Crime
E não é que a Galápagos atacou novamente? Sim, ela trouxe mais um título, simplesmente o vencedor do jogo do ano na Alemanha em 2021. Super recente! MicroMacro: Cidade do Crime. E inovaram novamente com os componentes. Pois é, hoje é o dia de se surpreender com jogos de mistério e sua jogabilidade.
Sobre os componentes, o jogo vem com 16 casos com nível de dificuldade e tempos de duração diferentes, desde o nível 1 ao 5. Vem com o mapa da cidade, que aliás é enorme (75 x 110 cm), e é nesse mapa que todos os casos irão acontecer, nele tem personagens, locais, etc., tudo com pistas para que você continue investigando.
Agora te digo, o mapa é enorme e os itens são pequenos para caber uma cidade toda com tantos detalhes, e qual seria a saída para vasculhar a cidade tão grande com desenhos pequenos? Aí está o segredo do jogo e o seu nome explica um pouco (MicroMacro), você usará uma lupa que vem no jogo, isso mesmo! É surpreendente! Achei super bacana isso, ela é retangular, na verdade uma lente de aumento (que será muito disputada durante o jogo) necessária para averiguar todos os detalhes do mapa.
Durante o jogo alguém será o narrador que aferirá se estão no caminho certo indicando quando eles “acharem” que descobriam algo. É muito divertido, mesmo narrando você se diverte. Na verdade, esse jogo lembra muito o famoso “Where's Wally?”, muito mesmo, e é muito diferente de tudo que já joguei de investigação e mistério até hoje.
Eu adorei o jogo, o designer é Johannes Sich, a idade 8+ (muito correto) e leva de 45 minutos a 1 hora. É divertido, inteligente, uma sacada excelente a da lupa e do mapa enorme, mas sou honesto, para mim cansa a vista rapidinho, já me dá dor de cabeça, mas isso é muito pessoal. O uso contínuo da lupa ou mesmo sem a lupa você acabará tentando (e você vai fazer isso) então no meu caso cansou a vista rapidamente, mas eu uso óculos de grau e já tenho mais de 40 anos (eu canso a vista jogando Dobble), agora, em meu favor eu digo, o mapa é carregado mesmo, e é essa a proposta.
Análise Geral
Eu gosto de todos esses jogos, cada um com sua particularidade, mas o que nota-se nesses Top Games de Mistério são mecânicas diferentes, tecnologias diferentes (desde consulta a livro, passando por app, sites, lupa, tiles). Uns com duração bem longa, outros de 20 minutos, então veja bem o seu grupo de jogo e o que mais lhe agrada.
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Eu particularmente aceito um jogo longo (não ligo para a duração do jogo) mas que não me canse fisicamente (a visão, por exemplo). Note que o Mansion of Madness pode durar de 3 a 5 horas, mas não exige nada da minha visão em termos de forçar ou ter que usar uma lupa para descobrir algo. Já MicroMacro eu não sei se aguentaria 2 partidas seguidas de 40 minutos cada, aliás eu sei; eu não aguentaria, mas repito, isso é pessoal.
Se for uma noite para desvendar mistérios e quiserem rir bastante, vão de Deception, será uma noite muito agradável. Se tiver crianças em casa, vão de MicroMacro, eles vão se divertir. Se quiser algo mais sério e tiverem tempo, vão de Mansions of Madness, e se não tiverem tanto tempo assim, vão de Detective ou Chronicles of Crime. Agora se quer queimar neurônios, recomendo Sherlock Holmes Consulting Detective. É diversão garantida!
Eu alteraria a faixa etária de 2 jogos, conforme mencionei, Sherlock Holmes eu recomendo aumentar de 10+ por ser só dedução e depender da experiência das pessoas, o ideal seria 14+. O Deception (14+) eu diminuiria para 12+ pois é possível sim para essa faixa etária. Note que temos jogos aí entre os Top Games de Mistério desde 8+ (MicroMacro) e até 12 jogadores (Deception). A variedade é grande.
Achei muito interessante termos 6 jogos bem diferentes tendo no seu núcleo o Mistério, e sim, o fato de termos todos no Brasil é bom demais! Parabéns às empresas que trouxeram os Top Games de Mistério internacionais para o Brasil.
Considerações Finais
A grande pergunta é: a lista é justa? Realmente os melhores estão aqui? E resposta será sempre um retumbante NÃO! E qual o motivo disso? A resposta é simples: gosto. E cada um tem o seu. Essa lista é baseada no ranking do BGG, mas aí você pode me perguntar: e o BGG é a última voz em termos de board game no mundo? A resposta é sim!
Vejam bem, saber disso não agrada algumas pessoas, pois como já dito, é tudo uma questão de gosto, o ranking do BGG é ovacionado por alguns e muito criticado por outros, mas o que está ali se repete nas feiras internacionais de board games, principalmente na feira mais famosa, a de Essen. O mercado de board games vive de hype, e no momento dessa resenha esses eram os jogos do momento e não é coincidência eles estarem no Brasil.
Mas o que ficou de fora e valia a pena estar nessa lista? Vamos lá, posso listar alguns clássicos, afinal foram citados os 6+ em meio a 1.612 dessa categoria. Para quem curte um party game de mistério, "Mr. Jack", os vários "Undo", "Black Stories", "Clue" e "Exit" realmente deveriam fazer parte da lista.
Para os que curtem séries deve estar sentindo falta de "Castle: The Detective Card Game", de "CSI: Crime Scene Investigation – The Board Game" de "The Mentalist Mystery Game: Red Moon Uprising" ou de "NCIS: The Board Game".
O que dizer de "Scotland Yard", "Mysterium" e "Jack the Ripper" não estarem nessa lista? Simples, e eu já respondi, são excelentes jogos, mas é a onda do momento, hype! Eles já estiveram nesse top 6 e por muito tempo, mas o mundo gira. É injusto? Sim e não, clássicos serão sempre clássicos, mas novidades sempre aparecem.
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Se me perguntarem qual o motivo de "Eldrich Horror" não estar nessa lista, a resposta é obvia: ele não está entre os tops de "Mistério" pois ele é um dos tops de "Terror"! Mas isso é assunto para outro artigo.
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