Introdução
As praias de Recife são conhecidas pelos ataques de tubarões. Isso não acontece desde sempre; tudo começou em 1992 e, atualmente, foram registrados mais de 60 incidentes desde então. Pode parecer pouco, mas sair de 0 em 400 anos para 60 em 30 anos é um problema. Reza a lenda que a culpa é do Porto de Suape, que apesar de ter sido construído na década de 70 e inaugurado na década de 80, só teve atividades intensas a partir da década de 90, atrapalhando a sociedade tubaroística, que passou a dar umas mordidinhas nos humanos da praia de Boa Viagem e redondezas. Mas o que isso tem a ver com Survive?
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Survive foi lançado em 1982, exatamente 10 anos antes dos ataques começarem, e foi relançado em uma edição de aniversário em 2012, 20 anos após os ataques. Se esses números arredondados não significam para nada você, infelizmente não posso convencê-lo mais. Para mim, demonstra perfeitamente a correlação entre um fato e o outro (?!). Além disso, no jogo tem tubarões. Claro.
Aqui no Brasil, o jogo chegou em 2015. Exatamente 33 anos após os ataques de Recife, mostrando novamente a correlação, já que o 3 aparece duas vezes em 33. Três que também é exatamente o mesmo número de tipos de criaturas no Survive: Tubarão, Baleia e Serpente Gigante. Acho que a essa altura, caro leitor, já lhe convenci.
Especificações e Objetivo
Vamos deixar as correlações de lado por um momento e falar do jogo, né? Survive: Escape from Atlantis, é um jogo de sobrevivência para 2 a 4 jogadores (expansão permite até 6 jogadores). Cada jogador controla um grupo de sobreviventes (representado por bonequinhos de uma cor com números secretos embaixo).
O objetivo do jogo é sair da Atlantis, pois esta grande ilha está colapsando devido ao despertar do vulcão. Os sobreviventes se salvam ao chegar em qualquer uma das quatro ilhas menores que cercam Atlantis, mas para tal precisará pegar barcos ou nadar longas distâncias. Parece fácil, mas não é. Os barcos são poucos, e este mar possui os perigos já citados do profético número 3. Claro que além dos Tubarões, Baleias e Serpentes Gigante, você também precisará lidar com seus coleguinhas tomando suas vagas nos barcos e andando com eles para longe sem esperar por você.
Como jogar
Depois de aprontar o tabuleiro aleatoriamente, tanto com os tiles (hexágonos) quanto com os meeples (bonequinhos), os jogadores passam a realizar seus turnos em sentido horário até que o vulcão apareça e o jogo termina. A pontuação é a soma dos números secretos dos sobreviventes que conseguiram escapar. O desenrolar do turno é simples: primeiro o jogador tem 3 pontos de movimentos para gastar como desejar; em seguida, deverá remover um dos hexágonos que formam a ilha; por fim rolar um dado para verificar qual criatura será movida pelo jogador. Pronto.
Um ponto relevante a ser comentado é que os hexágonos possuem informações embaixo. Nela está indicado se naquele local irá nascer alguma criatura ou se o hexágono deve ir para a mão do jogador e servir como alguma habilidade futura (nadar mais rápido, mover alguma criatura para outro local, etc). Essas habilidades são essenciais para a vitória, pois como Survive é um jogo com bastante Take That (vulgo lascar o amiguinho), você precisa surpreendê-los e conseguir salvar de maneira inesperada seus bonequinhos nas ilhas.
Criaturas
Outro ponto são as criaturas, citadas nesse momento pela terceira vez nessa resenha. Coincidência? Acho que não.
As criaturas se movem de acordo com o dado, mas a quantidade de espaços e habilidade de cada criatura varia. A Serpente Gigante move apenas um espaço e destrói barcos e come pessoas, o tubarão move dois espaços e come nadadores, a baleia move três espaços e apenas quebra os barcos sem ferir as pessoas. Então, no seu turno é importante ter em mente que a saída de cada criatura dessa no dado é de 33% (cada criatura aparece em 2 faces das 6 do dado).
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Então, se um determinado movimento lhe deixa prestes a salvar três bonequinhos seus, bastando esperar seu próximo turno, mas lhe deixa à apenas 1 espaço de distância de uma Serpente Gigante... É importante ponderar se o risco vale a pena. A mesa tem 4 jogadores? Serão 3 rolagens até chegar seu turno. A chance de sair uma Serpente Gigante já aumenta significativamente (mais exatamente para 70,37%). Vale a pena ou é melhor deixar a 2 de distância da Serpente Gigante? Claro, você só vai salvar 2 dos 3 bonequinhos no seu próximo turno, mas a chance deles morrerem cai para 25.93%. Isso se todos os jogadores quiserem sua caveira, o que faz sua chance de morte ainda menor dependendo das alianças e configuração do tabuleiro (algum outro jogador poderia ser atacado caso alguém tirasse Serpente Gigante?).
Discussão
Survive é um jogo bastante cruel, mas é uma crueldade nível família. Você não se apega aos seus bonequinhos, por serem muitos, e faz parte do jogo comer o bonequinho do amiguinho. Se essa frase soou estranha, foi tudo coisa da sua cabeça. Passa metade do texto sem ver correlação entre Recife e Survive, mas vê algo aqui? Pera lá.
Esse elemento de leveza dos ataques destaca Survive entre os jogos com muita interação e dedo no olho. Pois, além da grande quantidade de bonequinhos, em um futuro não tão distante, os seus bonequinhos também serão eliminados da partida. É difícil ficar com raiva quando um coleguinha precisa mover o Tubarão e o único movimento que fará o Tubarão comer alguém é rumo ao seu bonequinho.
Não é assim em outros jogos do estilo, pois geralmente atacamos o jogador diretamente. Como é o caso do bastante conhecido Munchkin, que além de mais hostil do que Survive, é um jogo que perde a graça depois que você conhece todas as piadas. Além da possibilidade das partidas durarem uma eternidade.
Gameplay
Conclusão
Pois bem, apesar da leveza, se você fica com rancor facilmente e leva suas jogatinas muito a sério, não recomendo Survive. Tem gente que realmente não foi moldada para essas situações, mas nunca passei por nenhum perrengue jogando. Agora, se você gosta de bastante interação, tema e mecânicas extremamente integrados, regras simples e muitas risadas, não precisa procurar mais!
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