Review de Operation F.A.U.S.T.: recupere obras de arte em plena 2ª Guerra

Durante a 2ª Guerra Mundial, duas operações foram feitas para aliviar a fome dos holandeses: a Operação Manna e a Operação Chowhound. Na primeira Operação, 7.000 toneladas de alimentos foram lançadas dos bombardeiros como ajuda humanitária. Na segunda Operação, mais 4.000 toneladas foram enviadas pelas Forças Aéreas dos Estados Unidos.

No total, 11.000 toneladas de alimentos foram lançadas ao longo de 10 dias. O fato é que perceberam que as Operações Manna e Chowhound não seriam suficientes, assim, uma operação de socorro terrestre chamada Operation Faust foi lançada. Assim, 200 caminhões aliados começaram a entregar alimentos atrás das linhas alemãs.

No Review de hoje, o autor do jogo obviamente fez alusão à Operação Faust, e chamou o jogo de Operation F.A.U.S.T., de Fine Art Underground: Stolen Treasures, ou, Belas Artes Subterrâneas: Tesouros Roubados, porém, como fica fácil deduzir, com a temática de obras de arte que na época foram saqueadas pelo Terceiro H., o que é um fato real e histórico.

É nessa época histórica que vamos conhecer Operation F.A.U.S.T.

Operation F.A.U.S.T.! é um jogo para 3 a 8 jogadores, com idade 13+, do designer Robert Burke. A arte ficou por conta de Luis Francisco.

Operation F.A.U.S.T.!, foi lançado em 2015 pela Robert Burke Games e ainda não veio para o Brasil. Sobre as mecânicas, as principais são: gerenciamento de mãos, memória, toma essa, posicionamento secreto, apostas, blefes e dedução.

Trata-se de um jogo baseado em fatos que abordou o importante trabalho da Monuments, Fine Arts and Archives (MFAA) e daqueles que os ajudaram a recuperar as maiores obras de arte do mundo durante e após a 2ª Guerra Mundial.

As cartas de conspiração do jogo apresentam fotografias do arquivo de heróis reais da 2ª Guerra Mundial, cujas histórias valem a pena ser descobertas e lembradas. As cartas de arte apresentam obras-primas reais que foram saqueadas ou salvas de suas garras.

A Einsatzstab Reichsleiter Rosenberg (ERR), ou Força-Tarefa do Reichsleiter Rosenberg, foi uma organização do Partido Nazista dedicada à apropriação de propriedade cultural durante a 2ª Guerra Mundial. A ERR foi liderada pelo principal ideólogo do Partido Nazista, Alfred Rosenberg. Tudo isso é um fato histórico real. No jogo, atuaremos com patronos de arte franceses tentando recuperá-las antes da ERR. Para isso, usaremos nossa inteligência e muito blefe para conseguirmos resgatar as obras.

Esse é o cenário de Operation F.A.U.S.T.!

O setup do jogo é bem simples, a saber:

- cada jogador recebe 2 cartas de conspiração (os personagens do jogo), as demais formam um deck;

- 5 intels são dados a cada jogador (intel, significa a nossa inteligência, a moeda do jogo), os demais ficam na mesa ao alcance de todos;

- 4 obras de arte são colocadas viradas para baixo na mesa, ou seja, fechadas, esse é o esconderijo de obras de arte, as demais formam um deck E

- são colocadas na mesa um número de cartas de documentos falsificados igual ao número de jogadores.

Sobre os personagens que recebemos, os usaremos para conspirar, blefar e fazer tudo mais que temos direito para recuperar as obras de arte. Dentre os personagens, tem-se:

- Resistência Francesa: ajuda a conseguir mais intels ou traz mais conspiradores;

- Espião: descobre algumas obras de arte do esconderijo de obras de arte, consegue desconto na compra de obras de arte ou consegue mais intel;

- Negociante de Arte: consegue mais intel ou consegue trocar obras de arte;

- Agente Duplo: consegue roubar intel, espiar uma obra de arte do deck de obras de arte ou de outro jogador, inclusive, podendo confiscá-la E

- Aliado: consegue intel e se protege de ataques ou espia obras de arte de outros jogadores, inclusive, podendo confiscá-la.

Note que ao conspirar, ou seja, ao usar a carta de seu personagem que você possui, você pode blefar. Ou seja, pode alegar que tem um personagem que, na verdade, você não tem.

Perceba que cada personagem tem, no mínimo, 2 habilidades, das quais você pode escolher apenas 1 delas. Existem duas formas de ativá-las, a saber:

- Habilidade de Mão: você pode manter a carta em sua mão SE não for desafiado E

- Habilidade de Mesa: você deve colocar a carta virada para baixo na mesa. Você deve SEMPRE colocá-la na pilha de descarte no final do seu turno, seja ela desafiada ou não.

Sobre as artes que buscamos recuperar, elas são de vários tipos:

- obras de artes normais;

- obras de artes consideradas degeneradas/depravadas. Elas contam como obras de artes normais, mas são facilmente confiscadas;

- obras de arte falsificadas E

- obra de arte falsificada e degenerada/depravada.

Sobre as obras de arte falsificadas, há uma forma de “validá-las”, ou melhor, enganar e fazê-las passar por obras de arte normais. Basta usar uma carta de documento falsificado para cada obra de arte falsificada que você tenha, assim elas “passam a valer” como obras normais no jogo.

Dito isso, hora de conhecer um turno de Operation F.A.U.S.T.. No seu turno, você pode executar apenas 1 das 4 ações:

1) Recrutar: pague 4 intels E pegue 1 carta de conspiração do deck para a sua mão (há um limite de cartas de acordo com o número de jogadores);

2) Comprar Obra de Arte: pague 10 intels E pegue 1 carta de obra arte do deck de obras de arte OU do esconderijo de obras de arte;

3) Forjar: pague 3 intels E pegue 1 carta de documento falsificado E

4) Conspirar: use a habilidade de mão OU de mesa de 1 de suas cartas de conspiração.

A Ação 1, de Recrutar, é importante, pois há vários personagens e quanto mais opções você tiver, mais fácil seu jogo fluirá, lembrando que há um limite para o número limite de cartas na mão, que como já dito, varia conforme a quantidade de jogadores.

Comprar obra de arte, ou seja, a Ação 2, é importante e faz o jogo andar, afinal, são os valores das obras de arte que ditarão o ganhador do jogo, mas falarei disso mais adiante.

Confesso que a Ação 3, de Forjar, não é a das mais populares, afinal, só se recorre a ela quando de tem uma obra de arte falsificada, então, de fato, não é uma ação comumente utilizada. Mas nem por isso é inútil; ela pode, inclusive, ser usada como blefe, para que os oponentes pensem que você tem uma obra de arte falsificada e isso pode afastar os negociadores de arte, agentes duplos e aliados. Use isso estrategicamente.

Por fim, a Ação 4, de Conspirar... é aqui reside a alma do jogo. Aqui se diz a verdade, se blefa, ou seja, se vive o core do jogo que é atuar para conseguir resgatar as obras de arte. A ideia de usar as habilidades de mão e de mesa faz o jogo ter um flavor de suspense no ar. Será que ele é quem diz ser?

Aqui entra um conceito importante do jogo, o Desafio. Quando alguém conspira, você pode duvidar dele, ou seja, colocar em xeque quem ele diz ser, e consequentemente, duvidar que ele possa fazer aquela ação e usar aquela habilidade. Para isso, algumas condições tem que ser atendidas:

- o desafiante tem que ter 2 intels para poder desafiar, apenas ter, não pagar 2 intels;

- se o jogador desafiado realmente tinha o personagem anunciado, o desafiador entrega metade dos seus intels para o desafiado ou uma carta de documento falsificado;

- se o jogador desafiado não tiver ou não quiser mostrar o personagem anunciado, o desafiado perde metade dos seus intels para o desafiador ou uma carta de documento falsificado.

Os desafios movimentam o jogo e dão aquele ar de desconfiança no ar, sobre não saber em quem realmente confiar, afinal, estamos durante a 2ª Guerra Mundial, e os riscos são altos demais. Após executar o seu turno, ser ou não desafiado, é a vez do jogador à sua esquerda.

Assim é um turno de Operation F.A.U.S.T.!

O jogo termina imediatamente quando um jogador revelar todas as suas cartas de obras de arte e as mesmas totalizarem:

- 1 milhão (ou mais) em valor no Mercado Negro, para até 6 jogadores OU

- $900.000, em jogos de 7 e 8 jogadores.

O jogador com essa soma pode inclusive anunciar o fim do jogo mesmo que não seja seu turno, afinal, ele pode ter suas cartas trocadas por ação de um personagem e assim atingir o valor alvo.

Um detalhe importante: um jogador não pode ganhar se tiver uma obra de arte falsificada não protegida por uma carta de documento falsificado (lembrando que cada carta de documento falsificado protege apenas 1 obra de arte falsificada). Quando uma carta de documento falsificado é colocada ao lado de uma obra de arte falsificada, o valor da obra de arte falsificada conta para a vitória.

Operation F.A.U.S.T. é sobre conspirar, blefar e usar a inteligência. Uma dose de sangue-frio cai bem, pois conspirar, “dizer” que tem um personagem que talvez você não tenha e desafiar os oponentes, requer uma dose de serenidade.

Honestamente, acho que a ação de Recrutar não é nem uma ação muito estratégica, é necessária no jogo, simples assim. O que ditará se pegará um novo personagem ou não é a variedade que você tem na mão de personagens para conspirar. Confesso também que não me preocupo muito por ter bons personagens repetidos na mão, dá para aproveitar ainda mais os jogando juntos. Vejamos:

- várias cartas de Resistência Francesa usadas ao mesmo tempo lhe rendem muitos intels E

- várias cartas de Espião lhe rendem muito desconto na compra de obras de arte ou muitos intels.

Saiba usar o potencial de seus personagens e conspirar cada vez melhor.

Comprar Obra de Arte é o que realmente importa no jogo. Imagine “combar” essa ação usando repetidas cartas de Espião? É o melhor cenário possível. Faça isso acontecer.

Comprar Documentos Falsificados é necessário, por vezes, e faz parte do blefe do jogo. Ter uma carta dessas na manga o ajudará e muito, se, por exemplo: se usar um negociante de arte, um agente duplo ou um aliado e, por ventura, pegar uma obra de arte falsificada, o documento falsificado validará sua obra de arte falsificada, e como já dito anteriormente, a título de blefe, se tiver sempre uma carta de documento falsificado, todos pensarão que tem uma obra de arte falsificada e todos irão pensar 2 vezes antes de tentar pegar uma obra de arte sua. Use isso a seu favor.

Como o jogo sugere fortemente, Conspire muito, muito mesmo, é o que movimenta o jogo. Ter os personagens corretos, ou se arriscar, não os tendo e dizer que os tem mesmo assim. Isso é se arriscar, e o jogo pede isso, provoca isso, para seu jogo fluir. Eu sugiro fortemente Recrutar até o limite de cartas possível na mão (de acordo com o número de jogares) e depois conspirar a vontade. Isso passará mais credibilidade, afinal, você terá várias cartas, o pessoal realmente saberá que você pode, sim, ter as cartas que diz ter.

Juntamente com conspirar, é importante saber o momento certo de usar as Habilidades de Mão ou de Mesa, onde e quando usar cada uma delas. Todas têm o seu potencial de serem usadas em momentos determinados do jogo. Saiba “ler a mesa”, quem tem obras de arte, busque saber, conspirando, quais obras de arte estão no esconderijo de obras de arte, espie o que seus oponentes têm, e depois use a habilidade certa para ser “cirúrgico” em suas ações.

Por fim, mas não menos importante: desafie! É a graça de tudo, é onde as conspirações podem dar muito certo ou caírem por terra. Saiba desafiar na hora certa, onde, mesmo errando, não perderá muito, também saiba que blefar demais, a todo o momento, chamará a atenção dos oponentes e você será constantemente desafiado. Sugiro usar isso mais no início do jogo, pois depois, do meio do jogo para frente, você já pode ter várias e valiosas obras de arte, e cair em um desafio pode lhe prejudicar sobremaneira. Ter um Aliado na mão lhe defenderá sempre do Negociante de Arte e do Agente Duplo, é uma boa carta para ter sempre na mão.

Com base nestas dicas, monte sua melhor estratégia, conspire, blefe, arrisque, desafie, recupere o maior valor possível em obras de arte e vença em Operation F.A.U.S.T..

Curta o Unboxing:

Assista a um vídeo de Regras:

Confira um Gameplay:

Operation F.A.U.S.T. é um jogo baseado em fatos, não deixe de aproveitar isso com seus filhos, e o jogo permite, ao mesmo tempo, mesmo tratando de um período nebuloso de nossa história, tratar isso com leveza, pois o jogo usa a temática de obras de arte, e ainda traz estímulos importantes para o desenvolvimento da criançada.

O jogo traz uma leitura em todas as cartas, mas após decorá-las, a criançada não vai mais nem precisar ler; vão decorar as funções e habilidades de cada uma delas e jogarão somente com as imagens dos personagens, afinal, são apenas 5 personagens. Isso faz de Operation F.A.U.S.T. um jogo que usa e estimula a leitura, mas que com o tempo a dispensa.

Há muita estratégia para escolher com qual personagem conspirar no seu turno, isso faz a criançada ficar “ligada” o tempo todo, concentradas mesmo no jogo para ver quem é que está com mais obras de arte que o outro. Aí o jogo fica bom e começam as “perseguições” ao jogador que tem mais obras de arte, mesmo sem saber se são ou não valiosas, falsificadas ou não.

É divertidíssimo quando se usa o negociante de arte e se nota que acabou trocando obras de arte e saiu no prejuízo, é muito frustrante e gerará várias risadas na mesa. Isso irá criar memórias boas e divertidas na criançada.

O estímulo matemático estará presente, pois a criançada precisará somar o total do valor que já tem pelas suas obras de arte e saber se já ganharam o jogo ou se estão perto de ganhar.

A tomada de decisão será sobre qual personagem usar para conspirar, para desafiar, enfim, são vários momentos de decisão que o jogo proporciona, e isso é importante, mesmo porque nem sempre a decisão que eles tomaram será a melhor, então terão que aprender a trabalhar a frustração, que não se acerta e nem se ganha sempre.

Por fim, a memória será muito usada no jogo, pois após conspirar com o espião, agente duplo ou aliado, terá que guardar na memória as obras de arte vistas dos oponentes ou no esconderijo de obras de arte.

Pedagogicamente, Operation F.A.U.S.T. dá uma aula de história, estimula a estratégia, a gestão, a tomada de decisão, o raciocínio lógico matemático, memória e ainda por cima, diverte!

Recomendo Operation F.A.U.S.T. na sua coleção!